A CPI do Crime Organizado começa seus trabalhos nesta terça-feira (4) no Senado Federal, cercada por expectativa e disputa política. Criada em junho, a comissão só agora foi instalada oficialmente — em meio ao aumento da pressão pública por resultados concretos na área da segurança pública e ao impacto das recentes operações contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
Embora o objetivo formal seja investigar a atuação de facções criminosas em todo o país, o clima no Congresso é de confronto. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a oposição travam uma batalha silenciosa pelo comando e relatoria da CPI, que promete ser um dos palcos políticos mais disputados de 2025.
🔹 Disputa por poder dentro da CPI
O autor do pedido de criação, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), ficou com a relatoria e promete conduzir um trabalho “técnico, baseado em dados e sem palanque político”. No entanto, os bastidores indicam que a escolha do presidente da comissão ainda é motivo de embate entre governo e oposição.
Aliados do Planalto defendem nomes como Fabiano Contarato (PT-ES) e Jaques Wagner (PT-BA), figuras próximas ao governo e com histórico de moderação. Já a oposição apresentou nomes de peso, entre eles Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Sergio Moro (União-PR), o que pode acirrar ainda mais o clima dos debates.
A CPI conta com 11 titulares e 11 suplentes, divididos entre parlamentares governistas e oposicionistas, o que deve tornar o equilíbrio de forças instável e imprevisível nas próximas semanas.
🔹 O que a CPI vai investigar
O escopo da comissão é amplo. O foco principal será apurar:
A estrutura de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV); Os mecanismos de lavagem de dinheiro e financiamento do crime; A influência das facções dentro do sistema prisional; As ligações entre organizações criminosas e agentes públicos; E ainda, possíveis conexões internacionais que fortalecem essas redes.
Segundo Alessandro Vieira, a comissão ouvirá especialistas, autoridades estaduais, representantes de comunidades afetadas e técnicos em segurança. “A CPI não será usada como palanque. Vamos buscar resultados concretos e propostas legislativas que ajudem o país a enfrentar o crime organizado de forma efetiva”, afirmou o relator.
🔹 Oposição quer visibilidade; governo busca controle
Nos corredores do Senado, a leitura é que tanto governo quanto oposição querem transformar a CPI em vitrine política. Para o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP), o risco é que a comissão vire palco de disputa eleitoral.
“A oposição quer um palanque, seja onde for. Nós queremos soluções”, disse o senador.
A oposição, por sua vez, acusa o governo de tentar blindar aliados e controlar a narrativa sobre segurança pública — tema que ganhou força após uma sequência de confrontos violentos no Rio de Janeiro e em outros estados.
🔹 Um teste político para o Senado e para o Planalto
Especialistas apontam que a CPI será um teste de fogo para o Congresso e para o governo Lula. O Planalto tenta equilibrar o discurso de combate ao crime com a defesa dos direitos humanos, enquanto enfrenta críticas sobre a eficácia das políticas de segurança pública e a cooperação entre União e estados.
A oposição, por outro lado, deve usar as sessões para expor falhas do governo, associando os problemas de segurança a uma suposta falta de estratégia nacional.
Com tantos interesses em jogo, analistas avaliam que o andamento da CPI poderá influenciar as articulações políticas para 2026, especialmente entre os senadores que buscam maior protagonismo eleitoral.
🔹 O que esperar das próximas semanas
A primeira reunião deve definir o presidente da CPI, aprovar o regimento interno e abrir o prazo para requerimentos de convocação. Governadores, secretários de segurança e representantes do Ministério da Justiça devem ser chamados ainda em novembro.
Se mantido o atual equilíbrio de forças, a CPI do Crime Organizado promete se tornar um dos principais palcos políticos do Congresso até o fim do ano, misturando investigações sobre facções criminosas com uma intensa batalha de narrativas entre governo e oposição.






