Nesta terça-feira (4 de novembro de 2025), Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista a agências de notícias internacionais em Belém (PA), na qual fez críticas contundentes à megaoperação recentemente realizada nos complexos da Complexo do Alemão e da Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Entre os principais pontos da declaração:
Lula disse que a ordem judicial era de prisão, “não tinha uma ordem de matança — e, no entanto, houve matança.” Ele qualificou a ação como “desastrosa” do ponto de vista da ação do Estado, ainda que pessoas possam considerá-la “sucesso” pelo número de mortos. O presidente declarou que o governo federal buscará uma investigação independente, com participação de legistas da Polícia Federal, para apurar “em que condições” a operação se deu. Ele apontou que até o momento existe uma versão apresentada pelo governo estadual, e que “tem gente que quer saber se tudo aquilo aconteceu do jeito que eles falam ou se teve alguma coisa mais delicada na operação”.
O que motivou a fala
A operação em questão, deflagrada no dia 28 de outubro, deixou oficialmente 121 mortos — entre suspeitos e policiais — segundo números divulgados. O alvo da ação era a facção Comando Vermelho (CV) nas comunidades citadas, num esforço de repressão intensa. A postura estadual era de que a operação foi um sucesso, com o governador Cláudio Castro (PL) afirmando que apenas policiais morreram e os demais eram criminosos. Lula discordou desse julgamento.
Por que isso é relevante
A declaração marca uma mudança de tom do governo federal, que até então vinha adotando discurso mais alinhado à repressão e às forças de segurança. Agora, Lula evidencia preocupação com excesso de letalidade e com os direitos humanos. Aponta para atritos entre o nível estadual (Rio de Janeiro) e o nível federal sobre segurança pública, o papel das operações policiais e a prestação de contas. A exigência de investigação independente abre caminho para repercussão institucional, controles federais e, possivelmente, mudanças de rotinas em operações futuras. A escolha de palavras — “matança” — dá contornos simbólicos e políticos fortes à questão: não se trata apenas de “vítimas” ou “crime”, mas do Estado sendo questionado sobre práticas que podem configurar violações.
Próximos desdobramentos a acompanhar
A composição da comissão de investigação: se os legistas da PF serão realmente envolvidos, qual será o escopo, o prazo, o grau de acesso às informações. A resposta do governo estadual do Rio de Janeiro, da secretaria de segurança e da polícia civil/militar sobre as alegações de excesso. As investigações jurídicas: se o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) ou outros órgãos iniciarão procedimentos administrativos ou criminais relativos à operação. O impacto nas políticas de segurança pública: se essa fala poderá gerar revisão de protocolos para operações em favelas/comunidades vulneráveis, monitoramento de enfrentamentos, transparência. A repercussão política: como essa declaração influenciará a percepção pública sobre o governo Lula, sobre segurança, e como será explorada pela oposição ou defesa do Estado do RJ.






