O Rio Grande do Sul se destaca como uma das poucas unidades da federação onde o Comando Vermelho (CV), uma das facções criminosas mais influentes do país, não conseguiu estabelecer uma presença significativa. Especialistas apontam que a ausência da facção no território gaúcho é resultado de uma combinação de fatores locais, históricos e culturais que tornam o estado um ambiente pouco favorável à expansão de grupos externos.
Facções locais já dominavam o território
De acordo com o sociólogo e pesquisador Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, da PUC-RS, o Rio Grande do Sul possui um ecossistema criminal consolidado desde antes da expansão nacional do Comando Vermelho.
“Esses grupos se organizaram antes da expansão nacional da facção carioca e acabaram ocupando o espaço de poder de forma autônoma”, explica o especialista.
Com isso, não houve um “vácuo” de poder que pudesse ser preenchido pela organização fluminense, como ocorreu em outros estados brasileiros.
Identidade e resistência cultural
Outro ponto importante é o fator cultural e de identidade regional. O estado gaúcho é marcado por uma cultura de forte autonomia — traço que também se reflete nas organizações criminosas locais. Essas facções tendem a resistir à influência de grupos externos e a manter suas próprias regras, redes e comandos.
“Há uma questão de identidade e resistência. As facções gaúchas preferem manter autonomia, e isso impede que uma liderança de fora consiga se impor”, observam analistas de segurança pública.
Território e presença policial
Diferente do que ocorre em regiões do Sudeste, o Rio Grande do Sul não possui áreas dominadas onde o acesso policial é dificultado, como morros e comunidades controladas por facções.
O estado também é reconhecido por uma integração efetiva entre as forças de segurança, o que contribui para dificultar o avanço de organizações criminosas nacionais.
Além disso, a geografia e a posição estratégica do estado, distante dos principais eixos do tráfico de drogas controlados por grandes facções, ajudam a limitar o interesse do Comando Vermelho em expandir sua influência direta sobre o território gaúcho.
Presença fragmentada de grupos locais
O crime organizado no Rio Grande do Sul é marcado por uma diversidade de facções locais, o que cria um cenário fragmentado. Essa multiplicidade torna inviável o domínio de uma única organização de alcance nacional.
Embora existam indícios de colaborações pontuais entre o CV e criminosos gaúchos em rotas de tráfico, não há evidências de subordinação ou filiação formal à facção carioca.
Um cenário de vigilância constante
As autoridades estaduais e federais continuam monitorando o cenário da segurança pública no estado. Embora o RS mantenha relativa independência em relação ao Comando Vermelho, os especialistas alertam que o contexto pode mudar, já que o crime organizado é dinâmico e as alianças entre facções são voláteis.
Ainda assim, o Rio Grande do Sul segue como exceção nacional, sustentando um modelo de criminalidade local independente, em contraste com a presença cada vez maior de facções como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) em outras regiões do Brasil.





